terça-feira, 20 de julho de 2010

Homenagem ao ídolo





Pra você o que significa a palavra ídolo?

Ídolo é aquela pessoa que admiramos por seus atos, não apenas isso, mas nos identificamos de alguma forma.

Tenho alguns ídolos nesta minha caminhada, uns maiores, outros menores, mas de diversos segmentos. Pessoas que de uma forma ou outra foram parte importante na formação do meu caráter, pessoas que, mesmo sem me conhecer, foram fundamentais para que eu seguisse um caminho e desse um rumo na minha vida.

Che Guevara, Thaíde, James Brown entre outros foram fundamentais pra isso e, como um amante do futebol e um apaixonado pelo Santos Futebol Clube, tenho meu maior ídolo dentro do clube.
Sempre que falamos de ídolos do Santos surgem alguns nomes. Pelé (que pra mim não se encaixa como um ídolo e sim como um Deus), Pepe, Coutinho, Giovanni, Robinho, Diego, Molina (só porque sangrou), Neymar, Ganso, etc...

O meu não, meu ídolo não é nenhum deles. Não que eu não reconheça o que cada um representa ao clube, longe disso, cada um tem sua história. Mas pra mim, um ídolo não basta ser um bom jogador.

Hoje em dia esta palavra está banalizada, não só o ídolo, mas também o craque. Qualquer jogador que faz meia dúzia de gols é taxado como craque, vira ídolo dos jovens torcedores e na maioria das vezes saem do clube de forma turbulenta. Não vemos mais jogadores com identificação com seus clubes e sua torcida.

Hoje no Brasil temos apenas 2 jogadores que são assim: Marcos e Rogério Ceni. Mas eu me nego a falar deles. Meu ídolo no Santos foi um jogador que marcou uma época. Defendeu as cores do clube com bravura e honra, que veio contratado com status de um dos melhores do mundo na sua posição e aqui mostrou porque diziam isso.

Um jogador que mesmo sendo capitão da seleção do seu país e sendo convocado para a “Copa Kirin” no Japão, Copa que o Santos também participaria, se negou a vestir a camisa do seu país, pois era o Santos que pagava seu salário. Ganhamos deles na final por 4X2 com mais uma bela atuação dele.

Estou falando do uruguaio Rodolfo Sérgio Rodriguez & Rodriguez, mais conhecido no mundo futebolístico como Don Rodolfo Rodriguez, o goleiro maior que o gol.

Responsável direto pela escolha do meu time do coração. Em uma época que o Santos não vinha muito bem, Rodolfo era o goleiro do time campeão de 1984, com defesas espetaculares e muito respeito à camisa santista, conquistou o respeito de toda uma geração.

Depois de muitos anos de idolatria e nenhum contato com meu ídolo, o que é normal, resolvi fazer uma homenagem ao clube que amo e, pra mim, o maior jogador que vi dentro das 4 linhas, em janeiro de 2009 tatuei o escudo do Santos e o rosto de Don Rodolfo na minha perna direita.

Era uma homenagem minha, solitária e silenciosa. Não tatuei nada querendo aparecer ou então tentando fazer graça e mostrar a ele. Não tinha contato, não sabia como arrumar e não tinha este interesse. Mas, a internet nos proporciona coisas absurdas. Um amigo conseguiu com o Aldo Neto o email da esposa de Don Rodolfo Rodriguez e pediu que eu enviasse a foto, pois ele ficaria muito feliz em saber da homenagem.

O email foi enviado e respondido, situação que me deixou muito orgulhoso e emocionado, pois jamais esperava que um dia fosse ter um contato tão estreito assim depois de anos, mas algo maior que isso estaria por vir.

No início de julho de 2010 fui procurado pelo amigo Arnaldo Hase, ele me disse que Rodolfo Rodriguez seria homenageado com a “Defesa de Placa”, sendo o primeiro goleiro do mundo a ser homenageado com uma placa por sua defesa. Disse também que gostaria que eu fosse à homenagem para mostrar a tatuagem ao vivo.

Neste instante meus pés gelaram, minhas mãos ficaram tremulas, fiquei sem reação alguma. Era o momento em que eu teria a oportunidade de mostrar ao meu ídolo a homenagem que fiz.
O local, CT Rei Pelé, dia 17/07/2010 as 10:00 hs. O time profissional treinando, cheio de estrelas como Robinho, Neymar, Ganso, Mádson, Arouca, Wesley e Edu Dracena. Passei pelo campo feito uma bala, meu destino? A porta do Hotel.

Lá se encontravam algumas pessoas, entre elas o Arnaldo e o Cássio Barco, que estavam me chamando ao lado do Rodolfo. Neste momento eu perdi a fala, apertei a mão da minha namorada e pensei em voltar. Não acreditava que aquilo estava acontecendo. Um ídolo pra nós é como se fosse uma pessoa intocável, alguém de outro mundo, eu jamais imaginaria que um dia encontraria com ele assim, em uma conversa informal, ainda mais para mostrar a ele o que eu fiz.

No momento em que me aproximei do grupo que estava em frente ao hotel,o nervosismo desapareceu, ainda estava com as mãos trêmulas, mas o nó na garganta e a falta da fala sumiram. Era uma oportunidade única, não podia fraquejar. Camisa de goleiro no ombro, caneta na bolsa da namorada, que quase destruiu o autógrafo, pois bolsa feminina é pior que buraco negro e uma respiração funda antes de chegar perto.

Fomos apresentados e na hora que mostrei a tatuagem, pela primeira vez vi a muralha desabar. Rodolfo ficou sem palavras, não sabia o que comentar quando viu. Eu não sabia o que falar a ele, tanta coisa que pensei, tantas histórias que vieram a minha cabeça durante a semana e na hora foi como se algo tivesse apagado tudo da minha mente, uma sensação estranha de felicidade e emoção.

Aos poucos Don Rodolfo foi mostrando que aquela humildade e respeito que tinha na época de jogador não era máscara e não acabou com o passar dos anos. Conversamos bastante e rimos muito, até sarro da caneta na bolsa ele tirou. Fez questão de tirar foto comigo, autografou minha camisa, me deu conselhos e disse que não sabia o porquê dessa idolatria que a minha geração tinha por ele, pois achava que não merecia.

Após este encontro posso afirmar que não me arrependo em momento algum de ter tatuado o rosto deste monstro do gol e continuo afirmando que a cada dia continuam banalizando a palavra ídolo, pois muitos que aí estão não merecem nem a nossa consideração, quanto mais ser chamado por algo tão forte e profundo.